Vou antecipar o tema do mês das mães. Além de ser óbvio escrever sobre maternidade em maio, na realidade “a data das mães” são as 24hs dos 365 dias no ano, já que depois do nascimento de um rebento, seu sono e sua vida nunca mais serão os mesmos.
Ter filho é um ato de coragem. O amor é tanto que dói no peito, transborda em lágrimas. Tudo que mexe com o sentimento dele mexe muito mais com você. Ver seu filho sorrir te realiza; um olhar penetrante daquele pequenino te tira o fôlego; um chamado te faz jogar tudo pro alto; saber que seu filho passará por uma perda te arranca um pedaço. Chico Buarque fez uma das mais lancinantes poesias sobre a dor de perder a quem se ama (muito!) em “Pedaço de Mim” (1978). Merece ser ouvida ou lida sempre: “Oh, metade arrancada de mim …”
Pedaço de mim
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Oh, metade adorada de mim
Leva os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
Me parece que antigamente era mais simples e tranquilo criar um filho diante do mundo. Hoje, ao ouvir em noticiários tantas tragédias e crimes envolvendo crianças, percebo ser fundamental refletir, avaliar, repensar antes de dar à luz a um ser puro que será moldado em meio a complexas questões sociais.
Desculpe se pareço pessimista, mas minha lucidez não me deixa mentir ou pintar de cor de rosa a realidade. Quando se tem um filho, você quer trilhar o caminho com ele, sofrer em seu lugar. No entanto, sabendo que ele terá que tropeçar, se machucar e aprender a se erguer sozinho, penso ainda ter muito a evoluir como mãe, mulher e ser humano, para reunir forças e suportar qualquer efeito negativo do mundo sobre ele.
Desde o nascimento do meu Arthur, hoje com um ano e oito meses, me pergunto: quem ensina quem? Nós aos nossos filhos ou eles a nós? Graças a ele sou muito mais feliz por ser mãe e também por ter descoberto em mim uma pessoa que desconhecia. Indiscutivelmente, quando isso acontece em sua vida, você já não é mais a mesma. Não há lugar para o egoísmo, para o “eumismo”. Hoje, sou “ele” e depois “eu”. Por causa desse amor, todos os dias, aprendo e cresço muito.
Quem ensina quem?
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